Entre os dias 01 e 07 de agosto acontece a Semana Mundial do Aleitamento Materno 2022, uma campanha global organizada pela WABA, OMS e UNICEF. Apoiamos o aleitamento exclusivo até pelo menos 6 meses de vida, mas qual é o apoio que essa mulher PRECISA para amamentar, de fato?
A mulher NÃO amamenta sozinha. Precisamos parar de romantizar e aceitar que amamentar, especialmente nos primeiros dias, é uma tarefa exaustiva, árdua e muitas vezes dolorosa. É com muita sorte que tudo vai acontecer de forma natural e tranquila. Amamentar, na maioria das vezes, envolve conhecimento, experiência, sacrifício, disponibilidade física e mental, capacidade de suportar longas noites de privação de sono. A puérpera, não raro, está também experimentando outras dores, angústias e se recuperando de um parto. Não é simples! E, às vezes, por poucas horas sem apoio tudo pode estar perdido. Os primeiros dias de amamentação são exigentes e merecem atenção. A mãe e o bebê precisam de uma rede de apoio: familiares, amigos, instituições, profissionais.
Amamentar também é um privilégio, em um mundo sem pausas, onde o que importa é ser produtiva, onde a mulher não recebe reconhecimento social por estar exercendo a tarefa de cuidar, sem licença à maternidade e paternidade dignas, sem apoio, sem incentivo real, ali no dia a dia, por quem está ao lado dela. Assim é difícil falar em escolha.
A nossa cultura massacra as mulheres, mães, exigindo sacrifício absoluto de corpo e alma, sem oferecer sequer apoio verbal, político, familiar, no trabalho. Em todos os âmbitos a mulher tem que amamentar sozinha e se não amamentar é porque não quis ou não conseguiu. A mãe se culpa muito, mas para isso ela tem total apoio…
No âmbito da cultura o incentivo é ambivalente, as mensagens são como as que chamamos, na psicologia, de “duplo-vínculo”. Elas enlouquecem, desnorteiam, impossibilitam escolhas tranquilas:
“Amamente até 6 meses, mas volte a trabalhar com 4!”.
“Amamente! Mas se cuide, descanse, entregue o bebê pra outra pessoa e vá dormir!”
“Amamente, mas fique linda e apresentável o tempo todo”.
“Amamentar é um ato de amor, é lindo, mas cubra o peito na rua porque é indecente!”.
“Amamente, mas, não deixe a criança “chupetando”.
“Esse leite não tá fraco?”.
“Esse menino não sai do peito?”.
“Amamente, mas retome a sua vida sexual pra ontem!”.
São muitas falas e vozes silenciosas na cabeça das mulheres, muitas vezes introjetadas, que não colaboram para que a mulher consiga, de fato, amamentar.Verdade é que temos muito mais incentivo na via da torcida, de longe, do que apoio, que exige presença, ações concretas, palavras certas e mais silêncio e respeito.
Como apoiar de verdade a amamentação? Oferecendo à mãe condições práticas e apoio emocional para que ela possa se dedicar EXCLUSIVAMENTE à essa enorme tarefa, que nos três primeiros meses de vida é quase em tempo integral mesmo. Politicamente ainda falta muito em termos de apoio e incentivo, para além de campanhas. Grupos de apoio, instituições que ofereçam informação correta, orientação, atendimento domiciliar.
No âmbito pessoal, apoie a amamentação, não levando a responsabilidade dela toda para uma mulher. Antes de dizer que “Ela não conseguiu”, “ela não quis”, vamos pensar: ela tinha condições mesmo? Se você está perto, ofereça um copo d´água, cuide dos outros filhos, resolva as coisas práticas, diminua a carga mental resolvendo os detalhes da vida cotidiana, verifique se ela tem o que comer, leve uma comida na boca dela! não faça comentários inoportunos, ofereça escuta empática quando vier o choro e a dor. Não julgue, segure o bebê pra arrotar enquanto ela descansa até a próxima mamada, diga o quanto ela LINDA, FORTE e INCRÍVEL e, PRINCIPALMENTE, pergunte o que ela precisa! Colabore para que ela se sinta confiante e possa se conectar com o bebê. Se não puder ajudar, não atrapalhe! Busque alguém que possa ajudá-la.
Se você é mulher, seja uma mulher que APOIA outra mulher. Se você é o pai, cuide da sua mulher para que ela possa cuidar dos seus filhos. Se você é da família perceba se ela precisa de ajuda. Sejamos mais empáticos! A mãe também pode estar muito sozinha ou realmente precisar de ajuda profissional. Uma psicóloga, uma enfermeira, uma consultora de amamentação, uma babá. Todo apoio é pouco, mas é preciso muito pouco pra apoiar.