Quais são os aspectos psicológicos envolvidos na amamentação, para a mãe? Sempre que se fala em aspectos psicológicos da amamentação, o foco é o bebê e o quanto a amamentação é importante para o seu desenvolvimento físico e psíquico ou, no máximo, no binômio mãe-bebê. Mas é o corpo da mãe que amamenta e não é assim tão natural. Somos seres da cultura, mesmo que tenhamos instintos. Já pensou nisso?
Amamentar envolve o corpo e a vontade, antes de mais nada, de uma mulher. Para além da maternidade e da tentativa de apagar as contradições e instaurar a amamentação como algo simplesmente natural, estamos no universo dos tabus, da intimidade, da sexualidade. Estamos diante de um terreno cheio de ambiguidades e desafios psicológicos! A mulher pode querer amamentar e o seu inconsciente dizer NÃO! Ela pode não querer, o que é seu direito, o corpo é dela! E, ainda assim, se sentir culpada. E aí, o que fazer diante desses impasses? Onde fica o limite entre olhar para a mãe ou para o que é melhor para o bebê?
Amamentar é uma ESCOLHA, e nem sempre consciente, e exige disposição afetiva, capacidade de entrega e espera. Demora, é um momento que pode ser bom, mas é também exigente. Depende da vontade alheia, a mulher não escolhe e nem controla a hora que o bebê demanda (e a demanda não é só de leite! o peito pode fazer milagres na dimensão do acolhimento). Se colocar totalmente à disposição do tempo e da vontade alheia, oferecendo o seu próprio corpo, insubstituível (como seria no caso de uma mamadeira) não é um desafio pequeno e pode ser, dependendo da história de vida dessa mulher, impossível! Pelo menos sem um acompanhamento psicológico.
Amamentar exige privação de sono, disponibilidade emocional, como talvez nunca antes essa mulher tenha experimentado. Não se trata apenas de amor e de ser um processo natural, mas do psiquismo dessa mulher.
Amamentar é reviver a própria amamentação. Será que essa mãe foi amamentada? Como? Qual foi a qualidade desse vínculo? Qual é a relação dessa mulher com a sua mãe, com o seu próprio corpo?
Amamentar envolve se distanciar de outras funções, estar menos disponível, mesmo que momentaneamente, para a vida pessoal, o relacionamento, os outros filhos, a casa, o trabalho. Como mulheres hiper-produtivas, como são hoje, lidam com isso e toda a pressão externa sobre ela? Como amamentar e ser livre, numa cultura que ainda condena ou dificulta o acesso da puérpera ao espaço público? Será que as mães têm mesmo que ficar presas em uma poltrona ou em um cantinho escondido e longe das pessoas para alimentar o seu filho? Como vai ser pra essa mulher essa retirada da cena social? E por que tem que ser assim?
A mesma sociedade que diz apoiar a amamentação cria uma série de empecilhos e mensagens contraditórias que dificultam a elaboração psíquica dessa mulher que gostaria de amamentar. Sim, amamentar poderia ser bem mais leve.
O preparo para amamentar não deveria ser só técnico e informativo, mas também psicológico! O estado emocional da mulher influencia na amamentação e não é algo que ela pode controlar.
Nem sempre amamentar é possível, também, psiquicamente. E o que não é possível pra mãe não é bom para o bebê, por mais importante que seja o leite materno. A qualidade do vínculo, nessa hora, está em primeiro lugar e deve ser preservada. O segredo é, sempre, reconhecer e aceitar os limites, sejam eles físicos ou psíquicos.