No Brasil, a cada dia, 32 pessoas se suicidam. As causas são multifatoriais e não é um fenômeno simples de se entender. No entanto, dados de pesquisas recentes revelam que o transtorno mental é uma fator de risco importante. A pandemia, certamente colaborou para que esses números aumentassem, visto que o isolamento social desencadeou ou exacerbou muitos dos sintomas de depressão e ansiedade.
Algum tipo de transtorno psiquiátrico está envolvido em mais de 96,8% dos casos de suicídio. Principalmente a depressão e os transtornos de humor bipolar, além da dependência química e alcoolismo, muitas vezes consequência também de transtornos mentais. Infelizmente, na maioria das vezes, esses transtornos não são previamente diagnosticados ou tratados adequadamente. Isso pode ser explicado em parte pelo tabu e preconceito em relação à saúde mental e, por isso, a conscientização da importância do cuidado com a saúde mental é tão importante.
A campanha da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e do Conselho Federal de Medicina denominada “setembro amarelo” foi criada com o propósito de conscientizar, desmistificar e prevenir o suicídio. É um mês inteiro dedicado a alertar para a necessidade de prevenção, que se relaciona diretamente à divulgação de informações sobre esses transtornos, a forma de tratá-los e como buscar ajuda.
Entre os fatores desencadeantes dos pensamentos suicidas estão a desesperança, impulsividade, isolamento social, instabilidade financeira, vulnerabilidade social e falta de perspectiva. Dificilmente uma pessoa que apresenta ideação suicida acredita em alguma forma de tratamento. Muitas vezes já perdeu todas as esperanças e não vê saída. Se ninguém a ouvir e a ajudar ela certamente vai passar ao ato e sabemos que o suicídio, muitas vezes, pode ser evitado.
Um dos maiores mitos é acreditar que o suicídio é uma decisão. É complicado falar de livre-arbítrio quando a maioria dos casos envolve algum nível de alteração, mesmo que momentânea, da percepção da realidade. Pra não dizer que muitas pessoas pensam em se matar como a única saída possível para aliviar um sofrimento, e não porque de fato querem morrer.
Outro mito é que falar do assunto piora o quadro, quando pode, na verdade, ajudar. Encontrar escuta empática pode ser inclusive uma forma de direcionar um pedido de ajuda mais concreto. Não se pode menosprezar um pedido de ajuda, mesmo que velado. A maioria das vezes a pessoa avisa, várias vezes, antes de se matar. Diz que está pensando em morte ou indiretamente diz que “não devia ter nascido”, que “era melhor estar morto”, ou que “não aguento mais…”. A família e pessoas próximas devem ficar atentos, ouvir, acolher e encaminhar para um tratamento adequado.
Outro mito é achar que a pessoa está blefando. Quem fala em se matar não está só querendo chamar atenção e, se está, convenhamos, ela merece receber essa atenção! Se for manipulação, nesse nível, é sintoma grave de um transtorno mental e sinal de que ela precisa de ajuda, de toda forma! Afinal, pode acabar conseguindo, mesmo que por acidente.
Outro mito é o tabu de que depressão é frescura. Que querer se matar é covardia ou falta de fé. Saúde mental exige cuidados, assim como qualquer desequilíbrio e problema de saúde que afeta a qualidade de vida de forma significativa. Exige atenção e prevenção. Então, se a pessoa chega no lugar correto a tempo, pode se ver livre desses sintomas que a prejudicam. Transtornos mentais não melhoram espontaneamente e existem profissionais capacitados para tratá-los.
Se você está passando por dificuldades ou conhece alguém que está em risco, busque ajuda! Nos CAPS, UBS, SUS, ou no “Pode Falar”, para adolescentes, ou ligue no CVV – Centro de Valorização da Vida , número 188 que é 24 horas. Não hesite em procurar orientação de um profissional capacitado para atendê-la: um psicólogo ou psiquiatra. Sofrimento mental tem tratamento!
FONTE: VARELLA, Dráuzio. “Como ajudar uma pessoa que está pensando em suicídio?”, 2020.
ABP; CFM. “Suicídio: Informando para prevenir”, 2014.
Julia Veras – Psicóloga
CRP 04 / 29013